Servo de Deus Pe. Júlio Maria De Lombaerde
Ó Jesus, é uma dor imensa para vós o verdes-vos carregado de cordas, como se tivésseis sido preso à força, vós que vos deixastes prender, porque estáveis disposto a salvar-nos. Mas por que vos deixastes prender, ó Jesus?
Como conciliar a vossa onipotência com tal estado de fraqueza e de abatimento? Eis até onde vos levou o vosso amor pelos homens! Não foram as armas dos judeus nem força nenhuma inimiga que vos prenderam. Foi o vosso amor que se ofereceu em expiação dos pecados e pela salvação dos homens.
E quais são, ó meu Jesus, os aços com que eu posso unir-me a vós para sempre? Como vós vos deixastes ligar por meu amor? Oh! Sim, aqueles que amam a Jesus ligado, ligam-se também a ele, com laços de amor.
Estar ligado com cordas, consentir em parecê-lo, alienar o que temos de mais caro, a nossa liberdade, eis a própria essência dos votos religiosos, que vós pronunciastes, alma religiosa, um dia, junto ao altar, apertando de encontro ao peito a imagem sangrenta daquele que será de agora em diante o vosso único amor, a vossa única riqueza, o vosso único querer!
Oh! laços adoráveis, eu vos exalto com alegria e vos beijo com ternura, pois sois vós que me prendeis ao meu Jesus. São laços de amor entre dois corações, de um amor que é preciso tornar indissolúvel e sem traição. Oh! se eu compreendesse bem… Os santos votos são um poema de íntimo e misterioso amor!
Senhor, eu quero amar-vos tanto e unir-me convosco de tal modo que não haja, no mundo, força alguma capaz de separar-me de vós.
Três coisas há na terra que podiam impedir essa união:
Os bens da terra: pois bem, Senhor, serei pobre!
Os bens do meu corpo: a minha carne, que chama e atrai para si: Pois bem! Serei casto, sem reserva!
Os bens de minha própria vontade: pois bem! Serei obediente.
Assim unidas pelos seus votos e ligadas pela Regra, as almas religiosas passam com Jesus pelo mundo que as insulta, que as repele, que as persegue e que as conduz enfim ao Calvário.
Não desatemos nenhum dos nossos laços, por amor ao grande Prisioneiro, o eterno humilhado, que nos precedeu e que vai a nossa frente, sem liberdade e sem poder aparente, mas há de chegar um dia a sua hora, a hora terrível em que os laços cairão.
Ó minha Mãe, será para vós a hora do triunfo, fazei que esta esperança me anime e me guarde fiel aos laços sagrados que me prendem a Jesus. Nada me desanime no caminho que escolhi, nada atrase a minha marcha triunfante através dos espinhos, que necessariamente ferem os pés daqueles que querem galgar o Calvário.
Eu o quero, e para isso quero excitar-me diariamente pela visão de Jesus ligado por meu amor, e convidando-me a segui-lo, ligado também por seu amor.
[A Subida do Calvário, p. 253 – 255]