Pe. Júlio Maria: homem Eucaristizado

Pe. José Herval Ferreira, sdn

Pe. Júlio Maria foi realmente um homem do Amor e Sacrifício, formado na Escola de Maria. Viveu a Kénosis de Cristo. Ele foi missionário doado. Homem eucaristizado, no sentido de  “encharcado de Eucaristia”.

 Sua compreensão da Eucaristia. [1]

Deus guia os passos dos seus santos. O Pe. Júlio, com o seu marianismo que lhe era próprio, foi caminhando para uma percepção cada vez maior da Pessoa de Jesus, particularmente para o Jesus Eucarístico.

O espírito lutador do nosso PJM nasceu da Eucaristia: "ex altari ad arenam" (do altar para a arena). Da Eucaristia ele partiu para a missão. Foi essa  a sua vivência eucarística. Foi esse o seu itinerário. Sim, foi essa espiritualidade que moveu a vida missionária de nosso fundador.

Notar que o PJM viveu na época do grande entusiasmo pelos congressos eucarísticos. Eram esses congressos uma divulgação do culto eucarístico. Sim, falava alto para o povão aquilo que foi ensinado na Idade Média como algo essencial ao se tratar da Eucaristia: contemplar a Hóstia consagrada. [2]

O PJM, homem de Deus e homem do povo, não poderia deixar de vibrar com os gigantescos congressos eucarísticos que empolgavam as multidões, é claro. Porém, o homem profeta ficava inculcado ao ver a massa contemplando a Hóstia Santa, e não tendo quase nada de "senso da Eucaristia" (ME p. 17). Para ele "não bastava ver o sacrário, ver a sua glória, ver o seu brilho: era preciso participar dele, em outros termos, era preciso entrar em contato com Jesus na Eucaristia" (ME p. 83).

Para ele a Eucaristia era o centro (foco) de tudo na vida do cristão. Mais do que adoração, era preciso recepção da Eucaristia. Sobretudo assimilação do Pão Vivo.  (ME – p. 17).

Certamente essa pregação era uma novidade para o comum do povo que o ouvia. Ele acordou no povo (particularmente nos seus formandos) o importante aspecto do mistério eucarístico: o seu dinamismo. Ele percebeu que esse aspecto era  bastante negligenciado.

PJM ficava triste por ver como o povo tinha a tendência de “fazer da Eucaristia um sacramento isolado da vida cristã” (ou “da comunidade,” – diríamos nós hoje).

Pe. Júlio sabia comungar e sabia fazer comungar, - dizem os que com ele viveram. Ele soube ser amigo íntimo de Cristo. Soube penetrar os sentimentos e desejos do Mestre. Foi um confidente de Cristo na Eucaristia.

Bonita expressão da Ir. Lúcia: “Jesus Cristo vazou seu coração no coração do Pe. Júlio Maria” (sic),

De onde PJM hauriu tamanho amor à Eucaristia? Ele deixou entrever que chegou a essa experiência, graças ao seu intenso amor à Mãe de Jesus. 

No seu livro Maria e a Eucaristia (1937) notamos como era empolgante para ele a vida eucarística de Nossa Senhora. Ali ele usou algumas expressões hauridas da Escola Francesa que precisam de algumas observações, sabemos disso.

Seja como for, nesse livro escrito com os termos de então, o PJM contemplativo externou sua profunda vivência eucarística a exemplo d’Aquela que melhor conheceu Jesus.

Hoje podemos entrar nesse tema sem receio. A Encíclica Ecclesia de Eucharistia (EE) de João Paulo II nos diz textualmente: "Existe uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria em resposta à palavra do Anjo, e o amém de cada fiel pronunciado quando recebe o Corpo do Senhor. (...) Dando continuidade à fé da Virgem Santa, no mistério eucarístico, é-nos pedido  para crer que aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, se torna presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano-divino" (EE 55).

Com certeza que a influência da “Mulher eucarística”[3] levou o Pe. Júlio Maria a se tornar um “homem eucarístico” ou homem “eucaristizado”. Por isso, devemos ler os escritos do fundador enxergando o que está por trás das palavras. 

Com Maria, Mãe de Jesus

Tendo em mãos a Ecclesia de Eucharistia e os escritos do nosso fundador, percebemos que ele avançou muito em sua percepção do que seja mesmo a Eucaristia.

Lendo os seus livros de espiritualidade, particularmente o citado “Maria e a Eucaristia”, e rezando no seu “Formulário de Orações”, não fica nenhuma dúvida: a Mãe de Jesus passou para o Pe. Júlio Maria uma forte espiritualidade eucarística.

Ele procurava conscientizar os seus formandos da força viva que se encerrava na Eucaristia. E mostrava Maria como o modelo da vivência eucarística.

No  " Formulário de Orações", por exemplo, lá na página 220 da edição de 1935, nós lemos: "Pertencendo à Congregação Sacramentina, a nossa vida deve ser, a exemplo de Maria, uma vida eucarística... .[4]

Pe. Júlio rezava e ensinava a rezar assim: "Sois a salvação do mundo, é Jesus, mas quereis comunicar-vos por Maria, como durante a vossa vida mortal vos comunicastes ao Precursor, aos pastores, aos magos, em Caná, no Calvário e no Cenáculo.” (Formulário, edição de 1935 p. 92 - Louvores).

Mais: "Em vossas disposições, ó Virgem Santa, queremos sacrificar-nos com Jesus Cristo, servindo aos irmãos, e reproduzindo em nós a vossa admirável vida eucarística" (Formulário, p. 93).

Com essa formação eucarístico-mariana, o PJM dizia a Nossa Senhora que ele e os seus sacramentinos, estaríamos todos "prontos a ir aonde a obediência nos mandasse para aí nos mostrarmos verdadeiros apóstolos da Eucaristia" (entenda-se: apóstolos eucaristizados, como ele estava sendo). – Formulário, p. 202).

Para o Pe. Júlio Maria, pois, um enfoque bem marcante é o colorido mariano. Era empolgante para ele a vida eucarística de Nossa Senhora. Esse marianismo foi passando para os seus discípulos que cantam: “Cristo-Hóstia do altar de Maria tem um jeito mariano de ser; e a Senhora da Eucaristia quer com Cristo e em Cristo viver. - Hóstia Santa das mãos de Maria, Hóstia viva de um seio de Mãe, Hóstia cheia de pura alegria, nós queremos ser hóstias também”.

A Igreja caminhou muito na reflexão teológica desde o tempo do fundador até nossos dias. Evidentemente que a Eucaristia é a mesma de todos os tempos. O que variou através da história foram os vários enfoques dados ao Sacramento da Eucaristia. 

Hoje temos muitos teólogos aprofundando o sentido da Eucaristia e de Maria na Igreja. É dever de cada sacramentino aprofundar e viver esses temas hoje, com o mesmo empenho com que procedeu o PJM no seu tempo. É nesse meio mistagógico que, respeitosa e honestamente, colocamos o nosso fundador. Tudo isso é mistério da fé!

 

[1] Durante o segundo milênio, especialmente depois da Reforma Protestante, foi muito destacada a teologia da presença real de Jesus na Eucaristia. Em 1962/1965 aconteceu o Vaticano II que veio enfatizar a centralidade do Mistério Pascal (do primeiro milênio). Ver na Constituição Sacrosanctum Concilium.

Aqui em nosso texto estamos analisando o modo como nosso PJM (na linha da teologia do segundo milênio) compreendia e vivia o mistério da Eucaristia.

Resta a nós, sacramentinos de hoje, acompanhar os muitos estudos sérios sobre a Eucaristia que surgem a cada dia. Que nossos estudos sejam um aprofundamento teológico sem descurar do aspecto mistagógico que foi lembrado e vivido pelos Santos Padres e por muitos santos através da história.  

[2] Isso veio até nossos dias. Em 1907 Pio X chegou a conceder uma indulgência especial aos que “fide, pietate, et amore Sanctissimam Hóstiam adspexerint” (aos que olhassem a Hóstia Santíssima com muita fé, amor e piedade). - Era essa a “doutrina eucarística” do tempo em que viveu o nosso fundador, doutrina essa que foi passada aos nossos pais e avós. 

[3] EE,53

[4] Em sua biografia notamos que o nosso fundador em seus primeiros anos de vida, foi “mais mariano do que eucarístico”.  Depois, é que a Eucaristia foi sendo a tônica de sua vida espiritual. Isso por influência da Mãe de Jesus.                                        

Diz Ir. Lúcia que Maria influenciou no PJM desde sua infância, e esse amor à Mãe de Jesus não ficou inativo em seu coração. Não foi uma devoção infantilizante. Pelo contrário, foi uma devoção que o levou ao grande amadurecimento que todos averiguamos.

 

 

 

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